O lobo aproximou-se mansamente e Francisco continuou: “Irmão lobo, tu fazes muitos danos nesta terra, destruindo e matando criaturas de Deus sem sua licença. E toda a gente murmura contra ti e toda esta terra te é inimiga. Mas eu quero, irmão lobo, fazer a paz entre ti e eles, de modo que tu não mais os ofenderás e eles perdoar-te-ão todas as ofensas, e nem homens nem cães perseguir-te-ão mais”.
Ditas essas palavras, o lobo, com o movimento da cauda e das orelhas e com a inclinação da cabeça, mostrava aceitar o que Francisco dizia. E Francisco continuou: “Irmão lobo, desde que é de teu agrado conservar esta paz, prometo que os habitantes da cidade te irão alimentar enquanto viveres, para que não sofras fome, porque sei que é pela fome que fizeste tanto mal”. Depois disso, foi com o lobo para a praça da cidade e todos se admiravam com a mansidão do lobo que antes lhes causava tanto medo. Aos frades que cortavam lenha, proibia arrancar a árvore inteira, para que tivesse esperança de brotar outra vez. Mandou que o responsável pela horta deixasse de cavar o terreno ao redor da horta, para que, a seu tempo, o verde das ervas e a beleza das flores pudessem apregoar o Pai de todas as coisas. Mandou reservar um canteiro na horta para as ervas aromáticas e para as flores, para lembrarem a suavidade eterna aos que as olhassem.
Recolhia do caminho os vermezinhos, para que não fossem pisados, e mandava dar mel e o melhor vinho às abelhas, para não morrerem de fome e frio no inverno. Chamava de irmãos todos os animais. Por sua vez, todas as criaturas procuravam retribuir o amor do santo e corresponder com gratidão a seus merecimentos. Sorriam quando as acariciava, atendiam quando ele as chamava e obedeciam quando ele mandava.
Próximo de sua morte, Francisco ficou muito doente dos olhos, ficando quase cego. Chamaram um médico para tratá-lo. O tratamento daquela época era queimar a fronte com um ferro em brasa. O médico veio e mandou colocar o ferro no fogo até ficar em brasa. O bem-aventurado Francisco, assim falou com o fogo: “Meu irmão fogo, o Altíssimo te fez forte, bonito e útil, para revelares a beleza das outras coisas. Sê meu amigo nesta hora, sê delicado, porque eu sempre te amei no Senhor. Rogo ao grande Senhor que te criou, para que abrande um pouco o teu calor, para que queime com suavidade e eu possa agüentar”. O médico pegou nas mãos o ferro em brasa, os frades fugiram por respeito, mas Francisco se apresentou ao ferro com alegria. O instrumento entrou em sua carne a cauterização se estendeu desde a orelha até o supercílio. E Francisco disse aos seus irmãos: “Porque fugistes? Na verdade eu vos digo que não senti nem o ardor do fogo nem dor alguma em minha carne”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário